Trabalho Infantil

Trabalho Infantil

O trabalho infantil no mundo não é exagero de organizações não governamentais, tão pouco é modismo do “politicamente correto” como querem fazer crer alguns. É de lamentar que a mão de obra infantil ainda persista no século 21″.

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Não tentemos desqualificar o problema colocando o trabalho infantil no mesmo plano da criança que ajuda seus pais arrumando sua cama, guardando seus brinquedos, limpando seu quarto. Estamos falando de escravidão, de trabalhos de longa jornada com finalidade lucrativa, e que no caso de crianças é ainda pior porque roubam sua infância e as impedem de estudar. Tratam-se de trabalhos pesados, insalubres, perigosos, além é claro, das atividades ilícitas que também utilizam crianças, como o tráfico de drogas e a exploração sexual. A OIT Organização Internacional do Trabalho, estima que cerca de 215 milhões de crianças no mundo trabalhem em diversos segmentos: na indústria têxtil, em minas de carvão, lavouras de cacau, plantações de algodão, entre outros.

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Mas se engana quem pensa que só a agricultura e pequenos negócios incorrem nesse tipo de transgressão. Multinacionais de renome já foram e são com frequência flagradas utilizando mão de obra infantil. O problema não se restringe apenas aos países subdesenvolvidos da África e Ásia, é também encontrado em países desenvolvidos, mas muito mais comum nos primeiros. Em países desenvolvidos as crianças de famílias de baixa renda, principalmente filhos de imigrantes, são as mais vulneráveis. Os próprios pais empurram as crianças para o trabalho infantil a fim de contribuírem com a renda familiar. Algumas dessas multinacionais donas de marcas famosas, que já foram denunciadas por uso do trabalho escravo e infantil, sequer passou por nossa imaginação.

Coca-Cola, Apple, Philip Morris, Nike, Zara, Forever 21, Victoria’s Secret, Brooksfield

Depois da indústria têxtil, a indústria do chocolate é um dos setores que mais empregam crianças, no cultivo e colheita do cacau. Multinacionais conhecidíssimas do público consumidor exploram mão de obra infantil em países da África Ocidental de onde provém dois terços do cacau utilizado na produção de chocolate em todo o mundo.

Nestlé, Hershey’s, Mars, ADM cocoa, Guittard Chocolate Company, Fowler’s Chocolate, Godiva, Kraft

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Já o Brasil, segundo dados da Fundação Abrinq, possui 2,6 milhões de crianças em situação de trabalho infantil. Ainda, conforme o levantamento da entidade, 17,3 milhões de crianças de 0 a 14 anos, equivalente a 40,2% da população brasileira nessa faixa etária, vivem em domicílios de baixa renda, segundo dados do IBGE (2015). Elas trabalham nas carvoarias, em olarias fazendo tijolo, em pedreiras, na extração de castanhas, na colheita de laranja, no corte de cana, na extração de sal, além do serviço doméstico em casas de família ou vendendo quinquilharias nas ruas das cidades. A informalidade e a precarização dessas atividades aliada às dimensões do país e a uma fiscalização pouco eficiente, permitem que esses setores tenham facilidade na obtenção da mão de obra de crianças e pouco receio de punições. Há lugares completamente esquecidos pelo poder público, caso das comunidades quilombolas em Goiás, onde houveram denúncias de trabalho infantil doméstico e exploração sexual, que já estariam acontecendo há duas décadas, bem como da exploração de mão de obra de crianças indígenas.

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Se é posssível explicar a exploração da mão de obra infantil pela facilidade propiciada em setores informais da economia, como explicar que o mesmo tipo de crime ocorra em grandes companhias, com grandes marcas? Elas alegam em sua defesa que não sabiam o tipo de mão de obra que era utilizada. Ora, mas grandes companhias não deveriam ter o hábito de fiscalizar seus fornecedores dentro e fora do país. Elas não se informam sobre as condições políticas e sociais dos países em que instalam suas fábricas? A verdade é que a mão de obra barata, e melhor ainda se for gratuíta, pressupõe aumento nos lucros. É isso que no final importa, e ao se aproveitarem da fragilidade social dessas crianças, contribuem para um ciclo perverso de pobreza que passa de geração em geração. Mas se o comportamento do mercado é a única coisa que sensibiliza grandes companhias que não deveriam fazer uso de tais meios, nada como trocar de marcas ou parar de consumir os produtos. Mas este é outro desafio: sensibilizar a opinião pública para um problema que está distante de suas vistas, e no caso das grandes marcas, quase nunca exposto na mídia tradicional.

Fonte: © obvious: http://lounge.obviousmag.org/por_tras_do_espelho/2017/05/trabalho-infantil-o-ciclo-perverso-da-pobreza.html#ixzz4lVr9zvdx

Ao mesmo tempo que nos espantamos com o fato de, em pleno século 21, ainda existir o uso de mão de obra infantil, não é tão espantoso assim. Estamos vivendo um momento de violência, de ruindade, estamos vendo do que o homem é capaz de fazer por dinheiro, por poder, por raiva e ódio.

Usar crianças que deveriam estar estudando, brincando, aproveitando o que julgamos ser a melhor fase da vida, é uma pequena prova do que os pequenos e grandes empresários fazem por dinheiro. Os números são altíssimos, incluindo os do Brasil. Quantas vezes nos deparamos com crianças no metrô, nas ruas e estações vendendo balas, muitas vezes acompanhados de seus próprios pais? O trabalho infantil está bem debaixo do nosso nariz, não enxerga quem não quer.

Assim como falado no texto, temos que diferenciar o arrumar a cama e ajudar os pais nas tarefas de casa do que realmente é trabalho infantil. Estamos falando aqui de trabalho braçal, pesado, dos quais muitos adultos não querem se submeter, mas que aquelas crianças são obrigadas, seja pelos pais, por necessidade ou por regime escravo.

A vontade de consumir mais e mais é tão grande, que diversas vezes o fato de ser produzido com mão de obra infantil é ignorado. Porque não deixar de consumir os produtos dessas empresas que utilizam o trabalho das nossas crianças?

Em vez de ignorar, devemos ir atrás dos direitos desses pequenos, cobrar do governo maior fiscalização nas empresas, projetos para tirar as crianças das situações de pobreza e “obrigatoriedade” e não incentivar o trabalho através da compra dos produtos. Devemos fazer a nossa parte, pois, apenas ler/ver as notícias e se espantar ou indignar não vai mudar a situação. São elas, as crianças,  nosso futuro, temos que proporcionar os meios para que elas atinjam os fins. 

Escrito por Giordana Scherer

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