Meritocracia e a desigualdade social

Meritocracia e a desigualdade social

Mas afinal, o que é Meritocracia?

“Meritocracia é um sistema ou modelo de hierarquização e premiação baseado nos méritos pessoais de cada indivíduo. A origem etimológica da palavra meritocracia vem do latim meritum, que significa “mérito”, unida ao sufixo grego cracía, que quer dizer “poder”. Assim, o significado literal de meritocracia seria “poder do mérito”. De acordo com a definição “pura” da meritocracia, o processo de alavancamento profissional e social é uma consequência dos méritos individuais de cada pessoa, ou seja, dos seus esforços e dedicações.”

Segundo pesquisa divulgada pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e pelo Instituto Ethos, apenas 4,7% dos cargos executivos das 500 maiores empresas brasileiras são ocupados por negros. De acordo com o censo realizado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), no ano de 2014, 1,4% dos juízes brasileiros são negros. Por fim, conforme aponta o Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (Infopen), que traz dados de dezembro de 2014, 61,6% da população carcerária do Brasil é composta por pretos e pardos. Os dados mostram que a desigualdade é clara no nosso país, a partir deles podemos refletir se essas pessoas que fazem parte desses dados estão nessa posição por falta de mérito ou por falta de oportunidade? Infelizmente podemos perceber que ter um bom status profissional e social não depende apenas dos ‘méritos individuas de cada pessoa’ como é colocado no conceito de meritocracia. A “meritocracia sem igualdade de pontos de partida é apenas uma forma velada de aristocracia” disse um Ministro ao dar seu voto a favor da política de cotas étnico-raciais para a seleção de estudantes da Universidade de Brasília. Ou seja, não existe meritocracia quando não se tem as mesmas oportunidades.

É comum ouvir “pobre é pobre porque merece, não trabalhou o suficiente” e “rico é rico por mérito, porque estudou, trabalhou”. Todos sabem que existem aqueles que estão hoje no topo por ter se esforçado, como o Silvio Santos, por exemplo, que trabalhava como camelô, mas não podemos pensar nas exceções, devemos pensar na maioria. Na maioria da população negra e pobre e não no caso a parte de Joaquim Barbosa, pensar na quantidade de mulheres que não conseguem chegar em um bom cargo em uma profissão, pensar em quantas pessoas que não têm acesso a educação e não no caso a parte do empresário que se tornou milionário sem nem ter o ensino médio completo. Não descarto a meritocracia de todos os casos, quando comparamos pessoas que tiveram as mesmas oportunidades, podemos sim estar falando de mérito. No contrário estamos falando de privilégio.

Talvez a gente tenha que pensar um pouco mais no que nos fez chegar onde estamos. Será que foi 100% mérito nosso? Será que não foi porque tivemos o apoio dos pais? Será que não é porque tivemos o privilégio de nos dedicar aos estudos e não ter que ir trabalhar para ajudar nas despesas de casa? Será que a nossa etnia não nos favoreceu? Refletir um pouco sobre as oportunidades que nos foram dadas pode ser o caminho para a gente pensar no próximo e procurar mudar das regras do jogo e quem sabe poder falar de meritocracia na nossa sociedade.

 

 

 

Isadora Barreto

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